Estar conectado à internet se tornou essencial para viver o século XXI. No Nordeste, muitas comunidades se uniram para entrar nessa era.
O cariri paraibano é a terra de seca, cactos, cabras e bodes e também, quem diria, de tecnologia. No ponto mais alto de Taperoá, na torre da Igreja Matriz, a antena por trás da cruz conecta a cidade ao mundo digital.
O sinal da internet vem de Patos, a 100 quilômetros de distância, chega à antena no morro e é rebatido para a igreja, de onde é distribuído para 350 casas e lan houses por um pequeno provedor local.
“Hoje com a tecnologia não podemos ficar esperando o dia que vai aparecer uma empresa maior. As empresas pequenas se reuniram e estão fazendo este trabalho que está sendo muito importante para a cidade”, comemora o técnico em informática Josenaldo da Costa.
Taperoá não se conformou em permanecer no passado e no isolamento. A cidade criou a própria saída para se conectar para abrir as portas para o mundo. Lá, falar em acesso à internet banda larga sem fio não é mais novidade. É uma realidade que se vê nas ruas.
Meninos na praça falam com o mundo. Isso é que é tecnologia. “A gente agora tem do que se orgulhar”, comenta um rapaz.
De gambiarra em gambiarra, o sinal da internet chega aos rincões mais inesperados. Ao todo, 56 famílias moram em uma comunidade de pescadores no município do Congo, na Paraíba. Eles vivem do que conseguem pescar no Açude do Cordeiro e da criação de tilápias nos tanques.
A grande novidade fica na associação dos pescadores: o primeiro computador chegou e está conectado à internet. Um tesouro para essa gente.
“Estou muito satisfeito, a gente se acha mais integrado ao mundo globalizado. Podemos pode acessar coisas que a gente aqui ia ter acesso muito depois. Hoje a gente tem em tempo real o acesso via internet”, destaca o secretário de Administração do Congo, Arquimedes Amorim.
“Nós estamos crescendo e aparecendo, graças a Deus”, afirma Antônio Mineiro Alcântara, presidente da Associação dos Pescadores do Açude do Cordeiro.
Atualmente apenas 21% dos domicílios, ou 5 em cada 100 brasileiros, possuem acesso ao serviço de banda larga. Na periferia do Recife, também encontramos antena de rádio levando sinal da internet para a vizinhança de várias comunidades. O cabo azul na fiação dos postes parte da antena e vai até as casas, o comércio e as inúmeras lan houses. Esse tipo de conexão compartilhada através de gambiarras, na maioria das vezes, é informal, não tem autorização da Anatel para funcionar.
Dentro de uma lan house, encontramos uma outra solução improvisada. Há uma confusão de cabos e fios que saem de uma sala apertada. Os poucos computadores estão sempre cheios de crianças.
Esperar que a internet chegasse até a comunidade cercada de mato e poeira poderia ser um longo exercício de paciência. Mas o que os moradores não poderiam imaginar é que o jeitinho paraibano de adaptar a tecnologia pudesse possibilitar o surgimento de uma lan house rural.
A cidade de Cacimbas fica a cinco quilômetros de distância do sítio. O caminho é uma estrada de terra. Os computadores da lan house são disputadíssimos. Os meninos adoram os jogos, e as meninas navegam nas redes sociais.
“Venho à lan house todo dia depois da escola, à noite. Passo de uma a duas horas aqui”, comenta a estudante Ana da Silva.
“É legal, porque antes a gente tinha de ir para a cidade e gastava mais tempo. Agora está melhor”, compara a estudante Taisla Gouveia.
A mesma tecnologia que leva a internet aos pescadores e à lan house rural garante o acesso ao conhecimento no campus da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em Sumé, no cariri paraibano. Se não fosse a solução criada pelos técnicos, o laboratório de informática não estaria conectado à rede mundial de computadores.
“A internet hoje em dia está diminuindo as distâncias e, com essa interiorização da universidade, ela ajuda muito. Um professor de outro país pode estar fazendo uma pesquisa junto com um aluno que está no interior da Paraíba, no Nordeste do Brasil”, diz a professora da UFCG, Miriam de Farias.
Enquanto aguardam a implantação do Plano Nacional de Banda Larga, que pretende chegar até 2014 com 90 milhões de acessos à internet, cidades inventam soluções e a sociedade corre atrás do prejuízo pra não perder seu lugar na história.
“Quem está fora deste universo da internet é uma pessoa que vive num universo paralelo. Vive num universo onde ela está condenada a não ter chance no mundo, a não ter chance de progredir, de se educar, de compartilhar a sua cultura”, defende Marcelo Fernandes, presidente do Comitê para a Democratização da Informática (CDI) em Pernambuco.
Fonte: www.fndc.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário